Autoras convidadas

A 21ª Flip confirmou a presença da equatoriana Mónica Ojeda, um dos principais nomes da literatura de ficção latino-americana. Será a primeira vez da autora no Brasil. 

Mónica é autora de Mandíbula, publicado em 2022 pela Autêntica Contemporânea, e da coletânea de contos Voladoras, que acaba de entrar em pré-venda, com lançamento previsto para outubro.

Voladoras é o livro do Flip_Se Assinaturas de setembro e outubro, em parceria com a Dois Pontos. O clube é bimestral e inclui o envio de um livro com a curadoria da Flip; conversas online com convidados especial; newsletter exclusivas e desconto em toda livraria da Dois Pontos. Os assinantes recebem o livro em primeira mão.

Ojeda tem sido reconhecida por seu modo peculiar de narrar o horror. Os oito contos que compõem Voladoras partem da geografia avassaladora dos Andes equatorianos e abordam questões que passam pelas relações de amizade, de vizinhança e familiares em geral, atravessadas por elementos como a sexualidade, a violência, a dor, a vida e a morte, temas também explorados pela autora no romance anterior.

Em Voladoras, encontramos criaturas que sobem nos telhados de suas casas e voam, terremotos apocalípticos, desejos inconfessáveis, segredos familiares e ancestralidade em profusão. As narrativas se situam em cidades, vilas, charnecas ou vulcões onde a violência e o misticismo, o terreno e o celeste, pertencem ao mesmo plano ritual e poético mostrando, mais uma vez, que beleza e horror são dois lados de uma mesma moeda.

Natalia Timerman fará parte do programa principal da 21ª Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, uma concepção da Associação Casa Azul. A autora de Copo Vazio acaba de lançar  o livro As pequenas chances, um romance autobiográfico sobre o luto e a memória, que reconstrói uma história familiar e as relações que a transpassam, publicado pela editora Todavia. 

“A escrita de Natalia Timerman traz a força feminina por vias incomuns e deixa uma marca peculiar que atravessa os vários gêneros por ela explorados: há em seus livros uma corajosa ritualização daqueles sentimentos mais incômodos, como dor, ausência, abandono, perda, saudade. Essa busca pelo entendimento íntimo dos estados alterados da existência, do mais comum ao mais extraordinário acontecimento, faz da sua obra um manancial de vigor e de delicadeza ao mesmo tempo. Sua presença na Flip nos levará a explorar esses caminhos da intimidade com coragem e encantamento”, explica Milena Britto, curadora da Flip. 

As pequenas chances traz um retrato de luto e amor. Enquanto aguarda um voo, Natalia encontra o médico de cuidados paliativos que atendeu seu pai Artur. A conversa desperta nela toda a experiência de sua morte, ainda próxima e repleta de cicatrizes. E é a memória dos meses e dias finais do pai da narradora que compõe a base deste romance, que apresenta sobre família, lembrança, judaísmo, vida e morte.

“Natalia Timerman chama a atenção pela grande facilidade com que transita entre diferentes gêneros de escrita, esbanjando carisma e excelência técnica. Em As pequenas chances, seu livro mais recente, ela elabora uma ficção reflexiva, que eleva o livro ao círculo poderoso de narrativas de memória sobre as relações paternas e o luto”, complementa a curadora Fernanda Bastos.

Natalia Timerman nasceu em 1981, em São Paulo. É médica psiquiatra pela Unifesp, mestre em psicologia e doutoranda em literatura pela USP. Publicou Desterros: Histórias de um hospital-prisão (Elefante, 2017) e a coletânea de contos Rachaduras (Quelônio, 2019), finalista do prêmio Jabuti. Pela Todavia, publicou o romance Copo vazio (2021).

Christina Sharpe é presença confirmada no programa principal da 21ª edição da Flip – Festa Literária de Paraty, que acontece de 22 a 26 de novembro. A autora, uma das mais importantes intelectuais negras da atualidade, está lançando no Brasil o livro No vestígio: Negridade e existência, pela editora Ubu Editora. 

“Christina Sharpe tem se dedicado a pensar as múltiplas implicações do legado narrativo da escravidão do povo negro. Com sagacidade, ela mapeia os valores de beleza que emergem da arte negra, sinalizando que também os artistas negros criam linguagens em meio à destruição que os persegue. Em nosso país, em que a branquitude insiste em ocupar todos os espaços da cultura e do pensamento, determinando com tolerância mínima, quem são os poucos não-brancos que podem acompanhá-los nessa travessia farsesca, a difusão da obra de Sharpe é especialmente relevante”, explica Fernanda Bastos, curadora da Flip. 

Em No vestígio: Negridade e existência, Sharpe desvenda os vestígios das memórias negras escondidas numa história predominantemente branca. Memórias individuais, um trecho de uma matéria de jornal, um verso de um poema, uma fotografia encontrada num arquivo, uma obra de arte, uma cena de filme, a arquitetura de uma cela, são a matéria-prima que guardam vestígios de onde Sharpe parte para desdobrar camadas de sofrimento, descaso, crueldade, opressão, desamparo, em um sistema escravista que opera com a violação permanente da vida negra.

“Christina Sharpe penetra profundamente no passado da diáspora africana não apenas para identificar as marcas das violências historicamente perpetradas contra populações negras, mas, sobretudo, para evidenciar a contínua manipulação das vidas negras por um sistema branco enraizado na sociedade. O jogo sensível e sofisticado que ela faz entre arte, palavra, história e memória torna seu trabalho essencial não apenas para pessoas negras, pois traz essa articulação como um meio para revelar possibilidades de enfrentamentos a partir do rompimento dos estereótipos violentos e limitadores agenciados pela branquitude a respeito da existência de sujeitos negros. Ter ela na Flip certamente nos possibilitará uma experiência sensível, instigante e profundamente relacionada a nossa realidade”, conclui Milena Brito

Christina Sharpe graduou-se em Inglês e Estudos Afro-Americanos pela Universidade da Pensilvânia e concluiu o mestrado e o doutorado em Língua e Literatura inglesas pela Universidade Cornell, em Ithaca. Escritora, professora e pesquisadora pelo programa Canada Research Chairs em Estudos Negros nas Humanidades na Universidade York, em Toronto, é também pesquisadora associada sênior no Centro de Estudos de Raça, Gênero e Classe na Universidade de Joanesburgo. Em 2017, No vestígio foi finalista da categoria Não Ficção do Hurston/Wright Legacy Award. O livro foi também considerado um dos melhores do ano de 2016 pelo jornal The Guardian. Atualmente, Christina Sharpe vem se dedicando à escrita de três livros: Black. Still. Life (Duke, no prelo); What Could a Vessel Be? (Farrar, Straus and Giroux/Knopf, no prelo); To Have Been to the End of the World: 25 Essays on Art.

 

Laura Wittner é a primeira autora anunciada pela Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, que será realizada de 22 a 26 de novembro. A argentina condensa em sua prática literária múltiplas facetas: tradutora, poeta, crítica, professora. O livro de poemas Tradução da estrada é o primeiro título publicado no Brasil, pelo Círculo de Poemas (Luna Parque – Fósforo). Já seu livro-ensaio sobre tradução, Se vive e se traduz, será lançado em novembro, na ocasião da Festa, pela Bazar do Tempo. 

“Pode-se notar, sobretudo em sua poesia, que o cotidiano, compreendido pelo mais captável do dia-a-dia, não apenas é o seu meio de condução mais direto a uma profunda intimidade, como também é sua maneira de traduzir as relações criadas pelos sentimentos em constante mudança, em estado sempre provisório. Essa transitoriedade se conecta profundamente com a arte contemporânea e com a escrita das mulheres: o fora e o dentro estão em constante busca, em constante surpresa”, explica Milena Britto, curadora da Flip em dupla com Fernanda Bastos.

“Laura Wittner instaura no tempo da poesia uma investigação das coisas íntimas do cotidiano. Por seu olhar, vamos redescobrindo aquilo que é comum, como o uso das palavras, que, em sua prática de poeta e tradutora, ela vai nos apresentando em camadas de significado e luz. Na produção que dedica à infância, ela instiga à curiosidade e à descoberta da palavra, em jogos, achados e piadas que são frequentes também na escrita para as adultas. No ensaio, compartilha de forma generosa e espirituosa, os saberes de uma prática essencial à tradição literária, a dádiva que permite a circulação de tantas e tantos autores incríveis pelo mundo: o ofício da tradução”, complementa Fernanda Bastos.